Desenvolvimento de parcerias público-privadas para enfrentar a desigualdade no setor de saúde

By Microsoft

17/06/2022

Iniquidades em saúde e vacinação

A pandemia expôs desigualdades de longa data na saúde e criou um forte contraste entre os que têm e os que não têm. Em nível nacional, os países em desenvolvimento ainda não possuem vacinas suficientes contra COVID-19 para atender à maioria de sua população. Nos países desenvolvidos e especificamente em comunidades carentes, a hesitação vacinal permanece alta, e as taxas de vacinação contra COVID-19 continuam baixas. Embora vários fatores contribuam para a hesitação vacinal, como conscientização e educação, talvez um dos mais difíceis de superar seja a profunda e contínua desconfiança no governo, na saúde pública e na comunidade científica compartilhada por muitas pessoas de regiões carentes.

Iniciativa de equidade na vacinação

A Microsoft e seus parceiros implementaram plataformas de tecnologia globalmente para permitir o agendamento, cadastro e gerenciamento de dados para a vacinação contra COVID-19 e observaram em primeira mão que parcerias público-privadas lideradas pela comunidade podem ser eficazes para lidar com a hesitação vacinal e aumentar as taxas de vacinação em áreas carentes.^1-3 Em um esforço para compartilhar o que aprendemos, lançamos a Iniciativa de Equidade na Vacinação (Vaccination Equity Initiative – VEI) em fevereiro de 2021. Aproveitando o impulso de fornecer vacinas contra COVID-19, a VEI se concentrou inicialmente na vacinação contra COVID-19, embora também tenha se expandido para outras vacinas/doenças críticas para melhorar a saúde geral e criar comunidades mais resilientes.

O objetivo agora é implantar uma abordagem semelhante em todos os Estados Unidos e no mundo. Para isso, uma coalizão de organizações sem fins lucrativos (como Easterseals, American Heart Association, California Health Medical Reserve Corp [CH MRC]), organizações de saúde, facilitadores de tecnologia (Microsoft, Accenture) e outros importantes participantes estão colaborando com a saúde pública local, organizações comunitárias baseadas na fé e outros grupos para implementar essas estratégias, compartilhar suas “melhores práticas”, distribuir seu guia estratégico de operações e fornecer serviços e tecnologias conforme necessário para implantar locais de vacinação temporários em áreas carentes.

O objetivo é fornecer vacinas e serviços essenciais de saúde para populações carentes, vulneráveis e com baixo acesso a cuidados. Para obter mais informações sobre a Iniciativa de Equidade na Vacinação, entre em contato com VEI@Microsoft.com .

O blog a seguir descreve (1) quando a VEI é mais relevante, (2) as etapas simples necessárias para aplicar a VEI, (3) os resultados obtidos e (4) como as organizações podem aprender mais sobre a VEI.

Principais fases de implantação da vacinação

À medida que a pandemia progrediu e as taxas de vacinação aumentaram, observamos quatro (4) fases de implantação da vacinação.

Fase 1. Priorização, volume e velocidade. Nesta fase, as vacinas foram fornecidas com agenda específica apenas para profissionais de saúde elegíveis e indivíduos de alto risco em locais de vacinação em massa, hospitais e clínicas de conveniência. O objetivo era possibilitar a vacinação para o maior número possível de pessoas, o mais rápido possível e de forma prioritária. A fase 1 também incluiu um programa coordenado nacionalmente para vacinar residentes e funcionários de casas de repouso.
Fase 2. Acessibilidade e comodidade. A segunda fase, que começou em algum momento durante a fase 1, concentrou-se em tornar as vacinações mais acessíveis para as populações vulneráveis e carentes. Envolveu a criação de postos de saúde temporários e a implantação de vans e ônibus móveis de vacinação em estacionamentos, escolas, igrejas, parques e outros locais convenientes do bairro. O comparecimento sem agendamento foi permitido.
Fase 3. Hesitação. A terceira fase envolve a abordagem da hesitação vacinal. A hesitação geralmente resulta de uma preocupação ou medo que os indivíduos têm em relação à vacina, seus possíveis efeitos colaterais e/ou sobre como a vacina foi desenvolvida. A desinformação, a falta de confiança no governo e as preocupações com a violação das liberdades civis também podem levar à hesitação vacinal.
Fase 4. Retorno ao trabalho, escola, viagens e eventos. A pandemia afetou seriamente nossa saúde física e mental, a economia, a educação, a vida profissional e a vida pessoal. Nossa capacidade de restaurar esses elementos essenciais da vida pessoal, profissional e comunitária exige a diminuição da quantidade de vírus em circulação na comunidade e a melhoria da capacidade de nos defender contra o vírus, tanto fisicamente (com o uso de máscara, distanciamento social, circulação de ar, etc.) quanto imunologicamente (por exemplo, por meio de vacinas). Enquanto esperamos um retorno mais seguro ao trabalho, escola e viagens, as seguintes estratégias nos ajudam a mitigar o risco e restaurar a confiança:
- Autoatestado: para reconhecer que a pessoa não apresenta sintomas compatíveis com COVID-19 nem teve exposição recente a indivíduos infectados com COVID-19;
- Teste: para demonstrar um resultado negativo do teste de COVID-19;
- Uso de máscara: para evitar a propagação da infecção;
- Credenciais verificáveis: para mostrar documentação verificável de vacinação contra COVID-19 e/ou um resultado de teste negativo;
- Doses de reforço: as doses de reforço podem ajudar a enfrentar o surgimento e a disseminação rápida de variantes mais evasivas e letais, aumentando a resposta imunológica às variantes. As doses de reforço são particularmente importantes para indivíduos com imunossupressão, doenças crônicas e idade avançada.

Coletivamente, nosso objetivo é avançar o mais rápido possível para a fase 4. No entanto, é difícil, se não impossível, permitir um retorno mais seguro ao trabalho, escola e viagens sem abordar adequadamente a fase 3, a hesitação vacinal. A boa notícia é que agora temos uma compreensão muito melhor de como superar a hesitação vacinal.

Hesitação vacinal

Ao trabalhar com líderes comunitários locais, aprendemos que a hesitação para se vacinar, especificamente em comunidades carentes, pode ser enfrentada quando as comunidades locais seguem essas etapas fundamentais:

Engajamento com a comunidade. Essas iniciativas requerem contribuições, orientação, apoio ativo e envolvimento dos líderes comunitários locais e das organizações sem fins lucrativos que entendem a cultura, os desafios e a melhor forma de engajar os membros da comunidade. Outros importantes participantes incluem agências de saúde pública de estados e municípios e prestadores de serviços de saúde locais. Os facilitadores de tecnologia podem apoiar esses esforços por meio de sistemas de gerenciamento de locais de vacinação temporários para quem não é cadastrado nos sistemas de Registro Eletrônico de Saúde (EHRs) e garantir que os dados clínicos fluam de forma transparente e segura entre esses sistemas e os registros estaduais de imunização.
Eventos familiares. Muitos indivíduos que hesitam em se vacinar não participariam de um evento de vacinação relacionado à COVID. No entanto, participariam de uma feira comunitária, da comemoração de um feriado ou de um evento para ajudar a trazer as crianças de volta à escola. O objetivo é combinar um evento de alto interesse para a comunidade não focado na COVID-19 (de preferência um que já esteja sendo planejado) com uma feira de saúde que inclua vacinação contra COVID-19 e muito mais. O evento precisa ser aberto a toda a família e, de preferência, oferecer atividades de diversão e entretenimento para as crianças.
Conversas sem pressão. As conversas com pessoas que hesitam em se vacinar devem ser sem pressão e realizadas por indivíduos com uma relação de confiança de longa data com a comunidade e/ou um histórico de saúde que lhes permita abordar as dúvidas e preocupações específicas da COVID-19.
Voluntários. As principais atividades nas quais os voluntários podem ajudar são:
- Controle de estacionamento, aglomeração e filas;
- Serviços de tradução;
- Cadastro e agendamento;
- Acompanhamento pós-vacinação;
- Uma das funções mais importantes do guia é conduzir fisicamente as pessoas interessadas até os locais de vacinação.
Vacinação e outros serviços essenciais de saúde. Considere oferecer os seguintes serviços de saúde no evento:
- Vacinação e testes de COVID-19;
- Imunização de crianças em idade escolar, testes de visão, audição, exames físicos;
- Imunização de adultos;
- Exames de câncer;
- Outros exames (por exemplo, hipertensão, diabetes, pré-natal, comportamento sexual de alto risco [incluindo testes para doenças sexualmente transmissíveis], abuso de drogas, violência);
- Programas de Determinantes Sociais da Saúde (SDOH) (por exemplo, plano de saúde, insegurança alimentar, transporte, habitação, emprego, creche, educação em saúde, treinamento de habilidades);
Abordar as barreiras para o cadastramento. Os principais desafios podem incluir:
- Barreiras linguísticas, alfabetização e educação em saúde;
- Preocupações com a deportação;
- Preocupações com o custo;
- Falta de plano de saúde;
- Falta de um profissional de saúde;
- Falta de acesso a um computador;
- Falta de acesso a um celular;
Acompanhamento. Seria de grande auxílio que um voluntário entrasse em contato com indivíduos de alto risco (por exemplo, sem-teto, idosos que moram sozinhos, indivíduos com problemas de saúde mental ou abuso de drogas) para garantir que eles compareçam na(s) data(s) posteriores. Os voluntários devem ser capacitados com recursos para resolver problemas de comunicação, transporte e/ou agendamento.

Resultados

Essas melhores práticas foram aplicadas com grande sucesso nos estados de Washington, Califórnia, Geórgia e em outras partes dos EUA.

Na região de Seattle, os esforços de vacinação coordenados pela Microsoft, a EvergreenHealth, a Overlake Medical Center & Clinics e a saúde pública de Seattle e do Condado de King proporcionaram mais de 170.000 vacinações até o momento. Cinquenta e três por cento das doses foram fornecidas a negros, indígenas e pessoas de comunidades de cor em risco.

Em 2 de maio de 2021, a parceria da VEI com o Condado de King organizou um evento temporário com o Centro Cultural Mexicano, com falantes de espanhol por todos os cantos, exposição de obras culturais e música mariachi preenchendo o ar. Graças a esses esforços, várias centenas de membros da comunidade encontraram o acesso e o incentivo de que precisavam para dar o primeiro passo no processo. Dos vacinados no evento, 98% foram latinos, de 68 códigos postais e 30 cidades.

Outra métrica importante para o sucesso foi a hesitação vacinal e a porcentagem de pessoas que retornaram para a segunda visita. Na região central da Califórnia, onde residem muitos migrantes trabalhadores rurais, as taxas de vacinação estão próximas de 20%. Trabalhando em estreita colaboração com a saúde pública local, cuidados de saúde, organizações comunitárias e empresas locais, o California Health Medical Reserve Corps (CH MRC), a saúde pública local, centros de saúde comunitários e a Microsoft sediaram vários eventos VEI. Observamos uma taxa de retorno de mais de 90% para a segunda dose, com aumento significativo do número de pessoas presentes no segundo evento em comparação com o primeiro. Muitos dos que receberam a primeira dose trouxeram toda a família, amigos e vizinhos para participar do segundo evento.

Em agosto e setembro de 2021, a Easterseals, a American Heart Association, a Emory Health, a Accenture e a Microsoft trabalharam em estreita colaboração com a saúde pública e os líderes comunitários locais que organizaram dois eventos que combinaram dias de “Retorno às Aulas e Alfabetização” e eventos de feiras de saúde em Clarkston, na Geórgia. Clarkston é conhecida por sua diversidade étnica e por uma grande população de refugiados. Os eventos ofereceram atividades para crianças e famílias e uma variedade de serviços de saúde, incluindo vacinas contra COVID-19, imunizações infantis, exames físicos escolares, testes de visão e medição da pressão arterial. Aproximadamente 400 pessoas participaram do evento de agosto, sendo que um terço delas se vacinou contra COVID-19. O evento de setembro teve participação menor do que o esperado devido ao rápido aumento da variante Delta, e muitas pessoas da comunidade temeram levar os filhos a grandes eventos presenciais. Estiveram presentes 150 famílias, quando historicamente esse evento tem participação três a quatro vezes maior. Como resultado, as taxas de vacinação foram menores do que no evento de agosto, mas um benefício extra inesperado foi o bom tempo, que permitiu que as crianças interagissem e brincassem umas com as outras – uma oportunidade positiva para a saúde mental das crianças que estavam em sua maioria isoladas desde o início da pandemia. Além da vacinação de adultos, os serviços para crianças ofereceram um exame físico incluindo medição de altura, peso, IMC e testes de visão e audição; um valor agregado significativo para essa comunidade além do serviço de vacinação.

Os principais fatores de sucesso foram:

Foco em áreas de maior risco e indivíduos mais impactados.
Trabalho conjunto com as comunidades locais para planejamento e coordenação dos eventos.
Facilitação do cadastro.
Realização de eventos fora do horário de trabalho e nos fins de semana em locais convenientes.
Atender às necessidades de transporte e mobilidade.
Disponibilizar vacinas independentemente do status de imigração.

Para encerrar, gostaria de compartilhar algumas observações dos membros da nossa Coalizão VEI sobre a importância do trabalho contínuo em lidar com a equidade das vacinas, e como as organizações estão contribuindo para o esforço:

“Para a saúde de todos nós, é fundamental abordarmos a hesitação vacinal com compaixão, e não com desdém. Podemos apresentar a ciência por meio de médicos especialistas confiáveis e acolher as pessoas, qualquer que seja sua compreensão sobre virologia. A hesitação vacinal resulta não apenas da desinformação, mas também de traumas passados e atuais – uma consideração importante à medida que nos aproximamos de comunidades de cor. Além da hesitação, devemos continuar encontrando maneiras para que pessoas com deficiência e idosos tenham acesso seguro às vacinas, seja recebendo as doses em casa ou dispondo de transporte para um centro de vacinação. A Easterseals está empenhada em analisar o quadro geral ao se aproximar das comunidades, garantindo que o maior número possível de indivíduos possa receber essas vacinas.” 
Angela Williams, presidente e CEO da Easterseals.

“Como defensores da equidade em saúde, a American Heart Association reconhece a importância dos esforços na comunidade que preenchem as lacunas existentes entre os cuidados de saúde e as pessoas que precisam deles. Aqui em Atlanta, trabalhamos incansavelmente há décadas para melhorar a saúde de nossos residentes e valorizamos a colaboração de organizações que pensam como nós para melhorar equitativamente as taxas de vacinação contra COVID-19.”
Carla Smith, vice-presidente de Estratégias de Saúde da American Heart Association de Atlanta.

Essa pandemia evidenciou as desigualdades na saúde que muitas comunidades vivenciam todos os dias. Componentes críticos do sistema não tinham capacidade ou ferramentas para garantir a troca de dados precisa e em tempo real, o que atrasou os esforços para levar as vacinas às comunidades que mais precisavam. O trabalho que estamos fazendo para preencher essas lacunas é fundamentado na abordagem da comunidade em primeiro lugar, com uma lente de equidade e inclusão. É imperativo nos envolvermos com as vozes confiáveis da comunidade para ajudar a orientar nossos esforços, o que ajudará a lidar com a hesitação e fazer com que mais pessoas sejam vacinadas. Nosso foco é ter o maior impacto local por meio do compartilhamento de dados, colaboração e garantia de equidade.”
Dr. Greg Buchert, Diretor Médico, CHMRC.